A expressão “cavalo de Troia” surge frequentemente nos debates em torno do TTIP, o famigerado acordo comercial transatlântico. Entre os que denunciam uma tomada de poder na Europa por parte das corporações americanas e os que defendem que o acordo garante a criação de centenas de milhares de postos de trabalho, está um processo negocial praticamente em ponto morto. O TTIP pode ou não tornar-se realidade?
As razões que levam Lucía a distribuir panfletos contra a negociação do acordo de livre comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos são diversas. Estamos em Barcelona, uma cidade conhecida por não virar as costas a protestos. Lucía pertence a uma confederação chamada Ecologistas em Ação. Esta é apenas uma das faces daquela que se tornou numa imensa luta europeia contra o chamado TTIP. Lucía explica o seu porquê: as grandes corporações americanas não podem ter luz verde para avançar sobre a Europa.
#TTIP #TAFTA François Hollande juge que l'accord de libre-échange avec les Etats-Unis “doit être revu profondément” pic.twitter.com/fBlMvVKKVj— franceinfo (@franceinfo) 21 octobre 2016
“A nossa democracia está sob ameaça. Arriscamos perder a soberania. Este tipo de tratados prevê a transferência de poderes públicos e privados para as mãos das grandes corporações. Basicamente, estes tratados aniquilam os países”, diz-nos.
Empresas dos dois lados da barricada
O grupo Ficosa, uma multinacional espanhola que produz componentes de automóveis para quase todas as grandes marcas, tem fábricas na Ásia e no continente americano e concentra receitas anuais que ultrapassam os mil milhões de euros.
Emilio Varela dirige a Ficosa e é igualmente vice-presidente da associação espanhola de fabricantes de componentes automóveis (Sernauto). A maior parte dos componentes tem de receber, por exemplo, duas certificações diferentes para ser comercializada nos dois lados do Atlântico, com custos na ordem dos 11 mil milhões de euros. Dinheiro que o TTIP proclama poupar.
“As diferentes normas que existem entre nós e os Estados Unidos fazem aumentar os custos dos nossos produtos em 26%. Se o TTIP puder evitar isto, a nossa atividade terá espaço para crescer muito mais e poderemos oferecer mais emprego no nosso país. Se as receitas aumentarem em 20%, poderemos criar 15 mil postos de trabalho em Espanha”, garante Emilio Varela.
A marca de cosméticos artesanais Lush dá emprego a cerca de 15 mil pessoas no mundo inteiro. Em Espanha, tem à volta de 250 trabalhadores. Defende uma filosofia de sustentabilidade ambiental e de ativismo contra os testes em animais. Victor Manuel, diretor de qualidade, considera que o TTIP abre a porta à utilização de produtos que não respeitam os princípios éticos da empresa.
“O TTIP faz-nos perder a proteção contra o uso de químicos nos cosméticos proibidos atualmente na Europa. Hoje em dia, a Europa interdita cerca de 1300 desses produtos químicos; os Estados Unidos bloquearam apenas 11. Um exemplo concreto é o chumbo:
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