Quais são os riscos reais de contrair o Ébola?

  • há 10 anos
A euforia mediática em torno do Ébola fez surgir um receio generalizado em relação ao vírus. Em alguns países africanos, como na Guiné e na Libéria, registaram-se milhares de mortos mas os cientistas sublinham que na Europa o risco de contágio é reduzido.

Para analisar as probabilidades reais de contrair o vírus Ébola doença, a Euronews falou com Jean-Claude Manuguerra. O investigador do Instituto Pasteur em Paris foi o primeiro cientista a lançar um alerta sobre a epidemia.

Jean-Claude Manuguerra: “O Ébola é uma doença causada por um vírus, o vírus Ébola. A doença começa brutalmente com febre, é como uma gripe. A pessoa começa a ter dor de garganta e dores em todo o corpo. Depois há outros sintomas que não têm a ver com a gripe, vómitos e diarreia. A situação pode complicar-se com sintomas hemorrágicos mas não é obrigatório que haja esses sintomas. A transmissão faz-se pelo contacto físico real, não é como a gripe, o sarampo ou antigamente a varíola que podia fazer-se pelo ar. Neste caso, é preciso que haja um contacto com uma pessoa doente e tocar os líquidos orgânicos infetados. Fala-se muito na transpiração, não é impossível, mas se não houver uma lesão, se não houver sangue na transpiração, a quantidade de vírus é reduzida. Não se apanha o vírus com um aperto de mão”.

euronews: “Qual é a situação atual na Europa?”

Jean-Claude Manuguerra: “Na Europa, a situação é excelente. Este tipo de vírus ataca as pessoas mais fracas e propaga-se nos países onde não há sistema de saúde.
É possível que haja casos importados mas é praticamente impossível que a epidemia se instale porque contrariamente à gripe, só as pessoas doentes é que são contagiosas.
O isolamento dos doentes e o acompanhamento das pessoas que estiveram em contacto com os doente permite quebrar a cadeia da epidemia.
É fácil quando há poucos casos, isso é o que acontece na Europa, mas é mais difícil de controlar quando há muitos casos”.

euronews: “Há pessoas com medo de viajar de avião devido ao Ébola. Este receio justifica-se?

Jean-Claude Manuguerra: “Tanto quanto sei, nunca houve uma caso de contaminação durante uma viagem de avião. O avião é um meio hostil para o vírus. Podemos andar de avião sem risco no que se refere ao Ébola.

euronews: Tudo indica que a origem da doença está ligada aos morcegos. E os animais de estimação? por exemplo os cães podem ser portadores do vírus?”

Jean-Claude Manuguerra: “Há muito poucos estudos sobre isso, por isso não podemo eliminar essa possibilidade. Mas há um estudo de 2005 sobre uma epidemia no Gabão. Foram observados cães com anticorpos e quando esses cães estiveram em contacto com o vírus não desenvolveram a doença. Provavelmente não serão transmissores do vírus”.

euronews: “Em relação à vacina, em que ponto está a investigação?

Jean-Claude Manuguerra: “Os primeiros ensaios clínicos vão começar no início de 2015, até lá poderemos ter provas da eficácia dessa vacina nos estudos com macacos. O macaco é uma boa referência porque é mais sensível do que o homem, se funcionar para ele poderá funcionar para o homem. Mas os ensaios humanos não deverão começar antes de 2015”.

euronews: “Qual é papel da indústria farmacêutica. Houve investimento na pesquisa sobre o Ébola?”

Jean-Claude Manuguerra: “As indústrias farmacêuticas, como qualquer outra organização, têm prioridades. Em termos de saúde pública, o Ébola não era uma prioridade. Em 21 surtos desde 1976, houve menos de dois mil mortos. Ora, em 2012 houve um milhão e seiscentos mil mortos de Sida no mundo e um milhão e trezentos mil mortos de tuberculose. O Ébola matou menos que a gripe sazonal. Como há poucos doentes, é difícil fazer estudos. Além disso os estudos são difíceis porque poucos laboratórios podem trabalhar sobre o vírus”.

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