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  • há 6 anos




Savimbi, O homem que podia ter sido Presidente
O anúncio da morte de Jonas Savimbi, na noite de 22 de Fevereiro último, precipitou a saída do livro de João Paulo Guerra, em preparação há mais de três anos, mas até então, sem data marcada de publicação. "Savimbi, Vida e Morte" começou por ser "Savimbi, A Guerra Infinita", e a ideia de que só o desaparecimento do líder abriria a via para a paz está presente ao longo de todo o livro, publicado, por "uma feliz coincidência", no dia da assinatura do cessar-fogo em Angola, 4 de Abril. Depois de uma primeira e segunda edições de quatro mil e dois mil exemplares, respectivamente, está prevista uma edição "actualizada", com dados entretanto recolhidos pelo autor - essencialmente correspondência pessoal e relativa aos negócios da UNITA - reveladores de uma faceta marcante da personalidade de Savimbi: uma desconfiança constante mesmo nas relações mais próximas que mantinha com o núcleo de homens que se pensava serem da sua confiança. Na actual edição, através da publicação de documentos e depoimentos, alguns deles inéditos, o relato jornalístico de João Paulo Guerra pretende reconstituir a vida do fundador da UNITA, numa perspectiva que acaba por corresponder em muito à versão apresentada e alimentada ao longo dos anos pelo regime de Luanda.

P - Teria sido possível publicar este livro estando Savimbi vivo? Evidentemente que sim. O projecto era esse, tal e qual na forma em que ele está. O título é que mudou de "Savimbi, Guerra Infinita" para "Savimbi, Vida e Morte". Foi o desenlace da história, com a morte dele, que precipitou a publicação. P - Mas é um livro extremamente controverso na forma como sugere uma responsabilização exclusiva de Savimbi pela guerra em Angola. Houve algumas reacções negativas?Ainda bem que é um livro controverso. Assumidamente. Não tive nenhuma preocupação de gerar consenso. Até agora, não houve reacções nenhumas da UNITA. Provavelmente, se o livro tivesse saído há um ano, teria sido muito mais controverso. Savimbi tinha uma influência muito grande sobre as pessoas, desde aqueles que o idolatravam por lhe reconhecerem determinadas qualidades até aos que viviam constrangidos naquele mundo opaco de poder exercido, muitas vezes, através da coacção. Logo a seguir à morte de Savimbi, tornou-se claro que a oportunidade da paz criou nos angolanos um certo consenso. O que é que mudou? Savimbi desapareceu, ao fim de muitos anos de negociações sempre adiadas e de acordos falhados. Quem vai beneficiar mais com o desaparecimento de Savimbi é a própria UNITA. O movimento estava condenado a ser considerado - a nível nacional e internacional - não como um partido político mas como um Exército armado, incapaz de se enquadrar numa sociedade civil.
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