Abdullah Abdullah: "Os talibãs ainda acreditam na vitória militar"

  • há 8 anos
O regime talibã caiu há 15 anos, mas o Afeganistão ainda não conseguiu emergir do caos. Num encontro em Bruxelas, dedicado às ajudas externas que aquele país recebe, falámos com Abdullah Abdullah, o chefe do executivo afegão.

Maria Sarsalari, euronews: Tem havido inúmeras críticas sobre a forma como as ajudas internacionais foram e são utilizadas no Afeganistão. Fala-se em desperdício orçamental e má gestão. Que garantias pode ter a comunidade internacional de que os eventuais erros que se tenham sucedido não voltam a acontecer?

Abdullah Abdullah: As coisas eram diferentes quando a comunidade internacional começou a colaborar com o Afeganistão, há 15 anos. Os organismos governamentais eram frágeis, as prioridades não estavam bem definidas e a planificação de projetos era problemática. Nos primeiros anos, foram gastos provavelmente centenas de milhões de dólares no chamado apoio técnico, no recrutamento de consultores para os vários ministérios e organismos. Portanto, parte do problema teve a ver com a corrupção e com os contratos que foram estabelecidos. Recentemente, foram encetadas reformas estruturais focadas nessa questão dos contratos. É um trabalho que continua a desenvolver-se. O povo tem o direito de se sentir respeitado quanto a este aspeto, é o que se espera de nós e estamos muito empenhados em fazê-lo. Seja em relação ao orçamento interno, seja em relação às ajudas internacionais, os afegãos fazem questão de saber que os fundos estão a ser utilizados de forma muito transparente. As pessoas e os doadores têm de ser informados de como o dinheiro é gasto. Já foram dados alguns passos positivos, em consonância com a comunidade internacional. Mas há ainda muito trabalho por fazer.

#Afghanistan: les ratés de l’aide occidentale illustrés #AFP pic.twitter.com/CLcyT3vT8K— Caroline Perrot cnp/ (@CaroPerrot) 4 octobre 2016

Até que ponto há “unidade” no governo de unidade nacional?

euronews: Alguns dos chamados “senhores da guerra”, antigos combatentes, vieram a integrar o governo. O poder que têm, e o facto de alguns deles agirem claramente à margem da lei, tem gerado várias preocupações e debates. É possível conceber um futuro para a República Islâmica do Afeganistão como um Estado de direito?

AA: Tem sido um longo processo. A situação melhorou, se compararmos com o cenário dos últimos anos. Todos aqueles que recorram à força e se comportem acima da lei têm de de ser travados. E as pessoas que não entendam isto têm de ser vigiadas. No entanto, não podemos fazer generalizações, nem rotular as pessoas apenas com base no seu passado. Não concordo com isso.

euronews: A criação de um governo de unidade nacional, após o longo processo que decorreu das eleições presidenciais, deu esperança a muita gente. Entretanto, sabe-se que o presidente e o chefe do executivo trabalham com equipas separadas. Porquê? Em que estado se encontra a vossa colaboração? Ainda há ressentimentos relativamente ao escrutínio presidencial?

AA: Toda a gente

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