O Brexit e a corrida aos passaportes no Reino Unido

  • há 8 anos
Britânicos que vasculham a história de família para tirar o passaporte irlandês; imigrantes no Reino Unido que estudam à pressa para solicitar o passaporte britânico. Quem diz passaporte, diz uma segunda nacionalidade, uma nova pele. A corrida pela identidade individual ao ritmo do Brexit.

Hammersmith é um bairro situado na parte oeste de Londres. É conhecido por acolher uma vasta comunidade de polacos. E também por ter sido palco recentemente de ataques de teor racista.

Logo após o referendo ao Brexit, uma loja de produtos polacos em King Street foi invadida por um grupo de extremistas ingleses que vieram insultar os proprietários e dizer-lhes para saírem o quanto antes do país. O medo passou a fazer parte do dia a dia de Izabela e Mirek. Mas esse não é o único problema: a libra tem desvalorizado, tornando mais cara a importação dos produtos que vendem.

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“Neste momento, não é propriamente agradável viver neste país. Sentimos que os britânicos não nos querem aqui. É estranho… Por outro lado, toda a gente tem medo. Tivemos um episódio curioso há tempos. Alguns dos nossos clientes são assim mais… chiques. Houve uns que nos disseram uma vez que queriam sair da União Europeia porque estavam fartos dos migrantes aqui. Mas depois também diziam que tinham uma empregada de limpeza polaca, uma babysitter polaca…. Ou seja, se não nos querem aqui, quem é que vai fazer essas tarefas? Por favor, é preciso ter algum bom senso…”, desabafa Izabela. Não pretende pedir um passaporte britânico: se a situação se agravar, muda-se para outro país da União Europeia.

Aprender a ser britânico

A Polónia aderiu à União Europeia em 2004. Ao longo da década seguinte, o número de cidadãos deste país a instalar-se no Reino Unido multiplicou-se por 8.

Monika Nawrod veio em 2005. Vive no bairro de Lewisham. Trabalha como administrativa num escritório. Pretende obter o passaporte britânico o mais rapidamente possível. Mas há que seguir etapas. Neste momento, estuda para os testes de História e Cultura britânicas a que terá de se sujeitar. As perguntas podem ser muito variadas: desde personagens de programas televisivos, até nomes de monumentos. Apesar de se dizer uma pessoa naturalmente otimista, Monika não hesita em afirmar que o referendo veio ensombrar as coisas.

“O Brexit preocupa-me, porque ninguém sabe o que vai acontecer. Vou poder ficar? Tenho uma hipoteca para pagar. Como é que isso fica? Vão obrigar-me a vender o apartamento e ir-me embora? Não faço ideia”, afirma.

Para poder tornar-se cidadã britânica, Monika passa os fins de semana imersa em papéis para provar que, nos últimos cinco anos, não passou períodos de tempo significativos fora do país: “Tenho de apontar todas as datas exatas em que fui de férias para Espanha, Itália, sei lá... Tem de ser a data ex

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